Entrevista de Sir Frank Williams a Livio Oricchio

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(Correções por Marcos Antônio)
Francis Owen Garbatt Williams, mais conhecido como Frank Williams, vai completar 68 anos dia 16. O proprietário da equipe de Fórmula 1 de maior sucesso nos anos 90, com os títulos de Nigel Mansell, em 92, Alain Prost, 93, Damon Hill, 96, e Jacques Villeneuve, 97, fora os Mundiais de 80, com Alan Jones, de 82 com Keke Rosberg, e o de 87, com Nelson Piquet, ainda vai à maioria das corridas. Desde 86, porém, encontra-se numa cadeira de rodas e dependente de seus assistentes para quase tudo, pois um acidente de carro o deixou tetraplégico. Sua força para prosseguir liderando uma organização que disputa a competição a motor mais sofisticada do mundo tem, essencialmente, uma origem, como diz nessa entrevista exclusiva ao Estado: "Amo o que faço."
Há 43 anos no automobilismo, desde 73 (desde 1969, N do M.A) na Fórmula 1, primeiro como piloto e depois na gerência de seu projeto de equipe própria(Frank Williams nunca dirigiu um F1, foi piloto de F3 nos anos 60, N do M.A), Frank Williams assistiu a tudo nas pistas: das mortes de seus amigos e pilotos da equipe, Piers Courage, em 70, e Ayrton Senna, 94, à hegemonia de seu time nos anos 90, quando se tornou referência na F1. Não escondeu nunca sua frustração por não ter seguido a carreira de piloto, em razão da falta de recursos. "Foi por conta dessa minha paixão pela velocidade que hoje estou na cadeira de rodas." O acidente aconteceu na volta de um teste da Williams no circuito de Paul Ricard, na França. Frank Williams dirigia.
A primeira pergunta que muitas pessoas gostariam de fazê-lo é por quais razões a Williams deixou de ser equipe vencedora?
É simples. Tenho hoje menos dinheiro. E com menos dinheiro conquisto menos resultados. Com menos resultados consigo menos dinheiro. E com menos dinheiro não faço um carro vencedor, não atraio os melhores pilotos, que gostam de ganhar dinheiro. É um ciclo. A perda da BMW (durou de 2000 a 2005) foi um duro golpe. Hoje pago pelos motores. E não são os melhores da Fórmula 1. Importantes patrocinadores não estão também mais conosco.
N do M.A: um duro golpe que aconteceu pois a Williams não quis manter os motores BMW por um ano até eles conseguirem outro fornecedor. Patrick Head e Mário Thiessen estavam em rota de colisão e o acordo não foi possível.
Estar associado a uma montadora é essencial para fazer sucesso na Fórmula 1?
As coisas estão mudando, há menos montadoras na Fórmula 1 (apenas 3 das 12 equipes representam indústrias automobilísticas hoje, Ferrari-Fiat, Mercedes e Renault) e um time com potencial para ser campeão é privado, a Red Bull, mas têm um orçamento enorme. É importante ter um desses grupos associados, mas não mais fundamental. O que é preciso é um bom orçamento.
A sua energia na liderança da Williams é visível, mas não pensa em parar?
Uma hora vai acontecer. Estou aqui porque amo o que faço. Bernie Ecclestone (promotor da F1) vai completar 80 anos e não parece da mesma forma perto do fim. E quando ele deixar a competição, a Fórmula 1, bem como a Williams, não vão acabar. Tenho profissionais que já cuidam, hoje, da sequência de nossa história e, no caso da Fórmula 1, o grupo CVC (sócio de Ecclestone na holding que detém os direitos comercias) saberá como conduzir o negócio. As decisões serão todas colegiadas, com a participação maior das equipes.
Sua relação com brasileiros é antiga. Em 72, o senhor alugava um carro March e José Carlos Pace foi pilotar para seu time. Depois, Nelson Piquet, em 86 e 87, Ayrton Senna, 94, e agora o Barrichello. São bons pilotos?
Infelizmente Ayrton disputou apenas duas provas conosco. Pace, muito rápido. Nelson, extremamente esperto, ganhou um Mundial com a gente. Agora Rubens. Estamos impressionados. Rubens tem todos os ingredientes de um piloto campeão, não falta um sequer. Com um bom carro, não tenho dúvida de que poderia conquistar o título. Sua experiência é visível e ainda é muito rápido.
N do M.A: Não vou nem mais contestar nenhuma asneira do Barrichello depois dessa.
Há como comparar a atual geração de talentos, Sebastian Vettel, 22 anos, Lewis Hamilton, 25, Robert Kubica, 24, por exemplo, com as que o senhor viu de perto na sua equipe, Nigel Mansell, Nelson Piquet, Alain Prost, todos campeões?
Eles são hoje o que eram Mansell, Piquet e Prost. Vettel, Hamilton, Alonso têm o mesmo talento daqueles pilotos. É um erro as pessoas acreditarem que não. A Fórmula 1 mudou. E hoje eles são os melhores. E essa geração é fantástica.
Como o senhor imagina a sequência do campeonato e o que acontecerá com o alemão Michael Schumacher?
Vettel para mim é excepcional. Se tivesse dinheiro e um carro vencedor é o piloto que gostaria de contratar. Tem grande possibilidade de ser campeão. Alonso é um matador, como Mansell. Tenho grande admiração por ele. Felipe Massa é o piloto mais fácil de ser subestimado. O que é um erro. Michael já entendeu que terá de usar sua experiência como forma de compensar aquele milésimo de segundo que provavelmente já não tem mais, o que é natural. E ele é capaz disso.
N do M.A: Alonso igual Mansell? nunca, Nigel Mansell foi muito melhor! E ah se a gente tivesse dinheiro e contratasse o Vettel...
O que é realista esperar da Williams este ano?
Não há milagres na Fórmula 1. Nosso orçamento é pequeno quando comparado aos quatro times que vão lutar pelo título (McLaren, Ferrari, Red Bull e Mercedes). Nossa meta é ser a primeira equipe fora dessas quatro, portanto terminar o Mundial de Construtores na quinta colocação.
N do M.A: Como diria Barrichello, vou ali chorar em um canto e já volto...