terça-feira, 13 de dezembro de 2011

O Complexo de vira-lata na F1

(posso fazer um texto sério? não, vou fazer assim mesmo)

Nélson Rodrigues declarou certa vez na década de 50, que o Brasileiro sofria de um complexo de vira-latas, algo que degringolou quando o Brasil perdeu a Copa do Mundo de 50 em casa para a seleção uruguaia. Segundo o Nelson, o complexo de vira lata não remetia somente ao campo futebolístico: "por 'complexo de vira-lata' entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. o brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Eis a verdade: não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a auto-estima". Embora fôssemos curados no futebol com a conquista da Copa do Mundo de 1958, segundo estudiosos ele ainda se mantém no senso comum das pessoas, mas o que quero comentar é como esse complexo de vira latas atinge os brasileiros na F1.



Se no futebol, tivemos uma grande decepção que abalou a nossa autoestima, oito anos depois, chegamos ao título mundial e ao auge, vencemos 3 das 4 copas seguintes e atingimos um patamar de super potencia no futebol, mesmo com o longo hiato de títulos mundiais. Na F1, o processo de "viralatalização" aconteceu de forma reversa: Chegamos ao auge em um período de oito títulos e cinco vices em dezenove anos,e com acidente do Senna perdemos abruptamente essa hegemonia. Com certeza o golpe do acidente fatal do Senna foi muito mais danoso do que perder um título em casa. Senna era um ídolo nacional e extremamente carismático(sim, eu sei os defeitos dele, sou uma viúva consciente).



Com isso, um peso imenso caiu nas costas do jovem Rubens Barrichello na época, que no ímpeto juvenil, assumiu a responsabilidade de ser quem o Brasil esperava. Por mais que se aplauda de pé a longa carreira de Rubens, ele falhou no que tinha resolvido assumir(erradamente), de ser o herói brasileiro das manhãs de domingo. E em 2002, ele deu o golpe de misericórdia na pobre auto estima brasileira, em especial do espectador que só vê um esporte quando tem um brasileiro vencedor, quando cedeu a posição para o Schumacher no último instante, no episódio clássico do "Hoje não! hoje não! hoje sim...hoje sim". Acho que depois disso a moral e auto estima dos torcedores pachecos e até dos pilotos brasileiros, foi se apequenando aos poucos.



E nessa semana vejo mais ainda que o complexo de inferioridade atingiu até os pilotos. Felipe Massa sendo entrevistado com Gabi falando que não teve um bom ano de uma maneira tão natural, seu olhar não trazia mais aquele ímpeto assassino, como disse uma vez Damon Hill ao ser perguntado sobre o que se precisa pra ser um vencedor. Massa que até não é mau piloto, mas que está na lona, porque tem um piloto de um nível excepcional que é Fernando Alonso, que sabe como poucos, vencer seu companheiro de equipe. Kimi Raikkonen, seu antigo companheiro, também é um piloto excepcional, mas nunca ligou para essas coisas de equipe. Por mais que diga que ele vai ter um ano melhor, é previsível que ele no máximo trabalhe para ser o escudeiro do espanhol.

Bruno Senna então, deu hoje a declaração mais derrotada  do ano, ao dizer que não se importa em ser o terceiro piloto da Lotus. um comodismo sem tamanho, digno de virar um futuro Marc Gené, eterno piloto reserva da Ferrari. O cara que tomou a vaga dele, mostrou qual foi o caminho a ser feito: Após ter sido dispensado por um péssimo desempenho na F1, ele foi pra AutoGP, uma categoria desconhecida, venceu, ganhou grana pra rumar pra GP2 foi vencedor e agora tem sua segunda chance na F1. Às vezes, tem que descer do salto e dar um passo pra trás, talvez até dois, para poder prosperar à frente.Bruno Senna acha que terá a mesma chance que teve esse ano, mas nesse caso, Grosjean agora tem um padrinho mais forte até do que Bruno Senna tem. ou pelo menos Romain tem um que dá mais grana.



Claro que pilotos dos níveis de Ayrton Senna,Nélson Piquet e Emerson Fittipaldi não temos mais, tivemos uma grandíssima sorte de termos três pilotos fora de série em sequência, não pra cobrar do mesmo jeito que se cobrava antes( o que muita gente não entende). Mas o que falta a alguns pilotos é ter além de um inegável talento, uma força mental pra não deixar que esse "pequenismo" o contagiar, aquela atitude de campeão que você vê em pilotos talentosos como Vettel, Alonso, Hamilton, Schumacher entre outros,que sabem não basta só o talento tem que estar focado em ser o mais rápido. Acho que tendo um piloto com atitude de campeão, os patrocínios vem. Patrocínio hoje que anda tão primordial que até em equipes médias está se tornando primordial um piloto trazer. Só espero que ainda tenhamos pilotos brasileiros ainda com tal ímpeto assassino e não com complexo de vira latas, vindo como um código de barras estampado na cara.


Fotos: Quatro rodas e Uol

Obs: Não torço pra nenhum piloto brasileiro, mas quando surgir um com talento e atitude, quem sabe.Dos bons nomes que vejo surgir, o Felipe Nasr e César Ramos são bons pilotos. Vamos ver até a caminhada deles até a F1.

5 comentários:

Ron Groo disse...

O texto está o fino.
Realmente agora é começo de nosso complexo de vira latas. Não temos nada mais a esperar dos brasileiros. Infelizmente.

Julio Cezar Kronbauer disse...

Li absurdos sem tamanho nos últimos dias, como, por exemplo, "ah, o Grosjean só entrou porque tem mais dinheiro"...

Ah, vá, então, se Bruno Senna tivesse ganho a vaga por ter mais dinheiro, aí vale, só porque é brasileiro, né?

Eu falei quando Bruno disputou a primeira prova de Fórmula 1: "os anos de kart que ele deixou para trás vão lhe fazer falta..." Taí o Kimi Raikkonen que não me deixa mentir... ele não veio pelo dinheiro.

Daniel Machado disse...

Belo texto Marcão. Realmente, é verdade o que vocÊ falou. Discordo Groo, acho que ainda tem algo bom do Brasil pra F1, pelo menos nesses que vc falou (Nasr e Cesar).
Na entrevista com a GAbi, o MAssa disse que ainda não viu nenhum talento que fosse diferenciado por aqui, e não sabe porque.

Julio, fiz um texto sobre isso que vc falou no meu blog: http://f1ontemehoje.wordpress.com/2011/12/12/a-segunda-chance-de-grosjean/

Net Esportes disse...

Acho que em todos os esportes isso acontece .... no tênis tivemos o Guga Kuerten e nada mais ... no boxe houve o Éder Jofre, o Popó e nada mais ..... vez e outra tem um pico e quando você pensa que vários vão seguir o exemplo e logo surgirá outro grande nome, não acontece ... o caso da F-1 é grave por tudo que você falou, mas acho que é geral, acho que isso ocorre porque só se pensa em futebol.

Carlos disse...

O q o Bruno Senna disse foi a gota d'água!

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